Em janeiro de 2009 foi publicada no "Diário do Nordeste", de Fortaleza, reportagem sobre a publicação de "A Misteriosa Vida de Lampião, do escritor Cicinato Ferreira Neto. Acompanhe:
Livro reúne versões sobre a vida de Lampião
4/1/2009
Historiador Cicinato Ferreira Neto, de Tabuleiro do Norte, faz cronologia da vida do Rei do Cangaço
Tabuleiro do Norte. Lampião, desbravador das paragens da Caatinga sedenta, ou da paz alheia; se herói ou bandido, sorumbático ou o homem que amava as mulheres, se vítima ou vilão é, sem dúvida, mito. O ano de 2008 arredondou marcos na vida do cangaceiro, como os 80 anos da passagem por Limoeiro, fugido de Mossoró, e os 70 anos de sua morte, narrativas cheias de controvérsias. Muitas vezes, não se escreve sobre Lampião: escolhe-se a versão que seja mais simpática e se tece a narrativa. Mas o historiador Cicinato Ferreira Neto, num trabalho histórico e jornalístico, reuniu todas as possíveis versões até agora e fez de “A Misteriosa Vida de Lampião”, um diário de pesquisador em torno da vida do “Rei do Cangaço”.
Assim rege o bom jornalismo: reunir versões, narrar os fatos, não se sentir dono da verdade e deixar que o leitor tire suas conclusões, ou, se não dá para concluir muita coisa sobre Lampião, que amadureça as suas impressões. “A Misteriosa Vida de Lampião” permite conhecer a trajetória do cangaceiro segundo versões de diferentes pesquisadores de variadas publicações. Mas é seu autor quem organiza a narrativa.
Sem fazer juízo de valor – somente de si, ao transmitir nas entrelinhas seu ar de incompletude frente ao mundo de informações sobre Virgulino Ferreira da Silva, Cicinato Ferreira Neto foi aguçando a curiosidade de criança, quando ouvia falar do cangaceiro.
Roteiro da pesquisa
Como bom peregrino do conhecimento, viajou pelos “territórios de Lampião”, lugares onde fez graça e desgraça, visitou museus, residências, universidades, cemitérios, e revisitou as impressões que tinha sobre o nordestino matador com pouco estudo, mas, supostamente, autor de frases curtas e grossas.
Mas quem foi Lampião, além de o destemido (opinião) e temido (fato) cangaceiro que escreveu na ponta da faca ou do cano de metralhadora parte da história do sertão nordestino de meados do século XX? Foi devoto de Padre Cícero, inimigo e aliado das forças instituídas, personagem vivo de crônicas jornalísticas? Ainda teve a morte anunciada, e como última imagem a foto de sua cabeça, sem corpo ou bandeja, posta no chão e exposta para que não restassem dúvidas sobre sua morte? Será?
“A Misteriosa Vida de Lampião” compõe-se de 18 capítulos, na prática, atos cronológicos. Dos primeiros anos de vida até a sua morte, não sem antes narrar muitos fatos da entrada do cangaço às perseguições dos volantes, a força policial instituída em combate ao poder paralelo de Virgulino.
Datas distintas
As controvérsias em torno do que é história ou especulação começam, literalmente, do começo, de quando nasceu o filho de José Ferreira e Maria Vieira da Soledade. “Nasceu no antigo município de Vila Bela, hoje Serra Talhada, Estado de Pernambuco, no período que vai de 1897 a 1900”, escreve. O período se justifica pela confusão entre as datas de nascimento: se 7 de julho de 1897, 4 de julho de 1898, 12 de agosto de 1897 (essa, a data do registro civil), junho de 1899, 12 de fevereiro de 1900 (segundo o próprio Lampião).
Quanto ao Cangaço, a confusão não é só entre datas, mas principalmente da motivação imediata para o ingresso em bandos. Sabe-se da rixa entre os Ferreira e os Alves de Barros, que até virou caso de polícia. O autor confronta fatos: o pai de Lampião, José Ferreira, foi morto por tropas policiais. Virgulino jurou vingança a Zé Saturnino e José Lucena, um oficial. Lampião, em bando, junta-se ao de Sinhô Pereira e dos Porcino. A morte do pai é considerada divisor de águas – e de desvio moral de Lampião. Mas questiona-se se é causa ou consequência, se foi antes ou depois do ingresso no Cangaço.
As 294 páginas de “A Misteriosa Vida de Lampião” somam-se às milhares já escritas sobre história, vida, morte e ressurreição (como mito) da figura do cangaceiro. Mas tem faro histórico e jornalístico. Conforme o autor, natural de Tabuleiro do Norte, não se trata de biografia nem de ensaio acadêmico, mas, sobretudo, de uma cronologia de Lampião.
O leitor curioso entende “o papel das forças perseguidoras, a relação dos cangaceiros com as mulheres, a medicina no Cangaço, a religiosidade, as alianças com os poderosos, os apelidos, os principais inimigos, entre outros temas curiosos”, convida Cicinato Ferreira Neto, em seu terceiro livro – os outros são “Estudos de História Jaguaribana” e “A Tragédia dos Mil Dias”. O prefácio é do professor doutor José Olivenor de Sousa Chaves, do curso de História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam), de Limoeiro do Norte.
Apesar da violência no Vale do Jaguaribe, por vezes lembrando o período do Cangaço, Lampião não deixou seguidores, mas, verdadeiramente, perseguidores de sua história. De mito a motivo para se conhecer as entranhas da formação socioeconômica e cultural do Nordeste do século XX.
MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador
APRENDIZADO
"Separar a verdade da mentira constitui-se tarefa das mais difíceis no que tange a saga dos cangaceiros"
Cicinato Ferreira Neto
Autor do livro
Mais informações:
A misteriosa vida de Lampião
Editora Premius
Cicinato Ferreira Melo
(88) 3424.2019
Preço médio: R$ 20,00
Nenhum comentário:
Postar um comentário