Saiu na Imprensa

Vejam o que os jornais falaram sobre a publicação das obras de Cicinato Ferreira Neto. acesso em http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=603399

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=408050



terça-feira, 30 de julho de 2019

Segunda Edição de "A Misteriosa Vida de Lampião"


Virgulino Ferreira, o Lampião, teve uma vida – e uma morte – cheias de mistérios. Por que entrou no cangaço ? Como conseguiu resistir a mais de vinte anos de perseguições policiais ? Como estabelecia a sua rede de colaboradores ? Como a polícia conseguiu chegar ao seu esconderijo ? São indagações que tornam cada vez mais apaixonante tudo o que se refere à Lampião e ao mundo dos cangaceiros. No livro “A Misteriosa Vida de Lampião”, a trajetória do rei dos cangaceiros é acompanhada com detalhes, ano a ano, desde a sua entrada no cangaço até o massacre de Angico. Episódios são apresentados em versões diferentes, informando e estimulando o leitor à análise do que realmente pode ter ocorrido. O livro tem 18 capítulos, 25 fotografias, 626 notas explicativas e conta com extensa bibliografia, inclusive com jornais pernambucanos e cearenses dos anos 1920 e 1930. Segunda Edição lançada em 2016.

Cicinato e a seca do 15


O escritor cearense Cicinato Ferreira Neto lançou “1915: a história dos sertanejos cearenses no ano da seca”. Foi no centenário da grande seca, em 2015. 

A obra é resultado de ampla pesquisa em arquivos do Ceará e de outros estados – jornais, revistas, fontes primárias e secundárias, além de manuscritos. O objetivo do trabalho é entender como foi o cotidiano dos sertanejos e dos próprios cearenses, de maneira geral, no ano de 1915, marcado por grande estiagem, a qual ficou celebrizada na literatura através do romance da cearense Raquel de Queiroz. 

Na publicação, de 304 páginas, Cicinato Ferreira Neto escreve um ensaio sobre a história da seca, analisa a postura do governo e das autoridades, descreve a postura dos cearenses na quadra de dificuldades, fala sobre trabalho e migrações, enfim, tenta dar uma contribuição à historiografia cearense, ainda com poucos escritos dessa natureza. As fotos e ilustrações ajudam a contar um pouco mais sobre período de grandes privações para o povo cearense.

Cicinato Ferreira Neto já lançou outros livros: “Estudos de História Jaguaribana” (2003), “A Tragédia dos Mil Dias: a seca de 1877-1879 no Ceará” (2006), “A Misteriosa Vida de Lampião" (2008, segunda edição em 2016), "A História do Fisco Cearense" (2011) e “A História do Ceará: fontes e bibliografia” (2013).


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Adeus, Alcino!

Alcino Alves Costa era o Caipira de Poço Redondo, o pesquisador admirável, o nosso mestre da pesquisa cangaceira. Hoje, no dia de Finados, ficamos tristes com sua partida, mas, ao mesmo tempo, felizes porque você venceu a sua dor... Eu fui seu discípulo e continuarei sendo. Que todos os pesquisadores e leitores possam reverenciá-lo! Seus livros nunca morrerão. Mas o sertão ficou mais pobre, mais desanimado. Que Deus o tenha!

sábado, 5 de maio de 2012

Livros do Nordeste 11

Um livro, digamos, imprescindível, para quem acompanha a trajetória de Virgulino Ferreira é "Lampião em Mossoró", de Raimundo Nonato. Não se trata de romance, trabalho jornalístico ou ensaio específico sobre a passagem de Lampião pela cidade potiguar em meados de 1927. Mas é um livro riquíssimo, com certeza o que traz maior número de fontes sobre o episódio. Raimundo Nonato, um dos maiores escritores do Oeste potiguar, autor de excelentes obras sobre Jesuíno Brilhante e sobre a passagem da Coluna Prestes pelo município de São Miguel, publica trechos de jornais mossoroenses da época, depoimentos de bandoleiros, crônicas, relatórios, versos, informações de testemunhas, enfim, uma ampla variedade de informações que, juntas, compõem o melhor acervo sobre a intrigante passagem do Rei do Cangaço pelas terras do oeste potiguar. O próprio autor esclarece para o leitor: "Esta não é propriamente a história de Lampião [...]. O propósito real dessa publicação, outro não é senão, o de levantar do esquecimento, do pó dos arquivos e das páginas dos velhos jornais da época, o noticiário exato e a descrição minuciosa das cenas de vandalismo, praticadas pelo grupo de Virgulino Ferreira, na sua passagem pela Zona Oeste do Rio Grande do Norte".
Trecho significativo: (edição utilizada: sexta edição, Mossoró, Coleção Mossoroense, série C, volume 1489, 2005): "Esse tempo relâmpago, de menos de cem horas, tanto quanto levou o grupo de Lampião no Rio Grande do Norte, permitiu, contudo, à malta desenfreada percorrer um número de léguas quase inacreditável, pois cobriu, em viagem batida de quatro dias apenas, um percurso que anda perto de 400 quilômetros, com uma poderosa cavalaria de montada, apetrechos de guerra, prisioneiros, animais de muda e mais de 60 combatentes, poderosamente armados, para qualquer eventualidade.
Nesse itinerário de lutas, depredações e violências, coberto entre 10 e 13 de junho de 1927, o grupo sinistro deixou, da sua passagem uma crônica de horrores, de morticínio e de miséria. [...]
 Este fato, como acentua Mário de Andrade, é um dos pontos culminantes da vida do trabuqueiro de Vila Bela". (p.12-13)   

sábado, 31 de março de 2012

Livros do Nordeste 10



"Lampião" - Ranulfo Prata -





Livro escrito por um médico sergipano em 1933, ainda no calor da luta contra o cangaço. Ranulfo, já renomado escritor, fala da campanha das volantes e policiais contra os cangaceiros depois da Revolução de 1930. Escreve sobre as crueldades cometidas pelos cangaceiros em território sergipano, sobre a figura de Virgulino Ferreira da Silva e sobre o drama diário dos sertanejos diante da violência (da polícia e dos bandoleiros) e de problemas como a seca de 1932. O livro de Ranulfo Prata, cuja edição renovada teve a introdução de Antônio Amaury Correa de Araújo, teve grande repercussão nos turbulentos anos 1930 e, segundo depoimento, teve exemplar que chegou a ser conhecido pelo próprio Lampião.





Trecho significativo (Edição utilizada: Traço Editora, São Paulo, sem data): Sobre características de Lampião -





"Contando atualmente 33 anos, Virgulino Ferreira é cor de bronze-escuro, tem 1m,80 de altura, torso másculo, cabelos pretos, lisos e compridos, caídos sobre os ombros, feições duras, mas harmônicas, sem nenhum estgima físico de atavismo. Excelente dentadura. O olho direito, cego por um garrancho de jurema, lacrimeja constantemente, protegidos por óculos de aros de ouro. Membros inferiores adelgaçados e finos, em relação ao tronco. Pés secos, descarnados, entremostrando os tendões, enfiam-se em alpercatas, chuviscadas de ilhozes multicores. Os músculos das suas panturrilhas de andarilho repontam em relevo nutrido, como numa perfeita dissecação anatômica de anfiteatro.





O que mais impressiona no seu físico chocante são as mãos, são terríficas, expressivas, revelando um temperamento, uma vida. Extraordinariamente longas, no dorso, sobre um leque de tendões enrijados, dançam-lhe arabescos escuros de veias turgidas; recobre-lhe as palmas uma crosta áspera e acizentada como pele de batráquio; os dedos finos, ósseos, compridos, terminados em unhas córneas e ponteagudas, enegrecidas como equimoses, ostentam inúmeros anéis, falsos e verdadeiros. Mãos ferozes, convulsivas, astuciosas, brutais e ávidas. Parecem sempre febris, frementes, animadas de estranha vida como se cada músculo e cada nervo estivessem a receber continuamente a excitação de uma agulha elétrica.[...]" (pag. 26)

terça-feira, 20 de março de 2012

Cariri Cangaço: Força ao Decano Caipira de Poço Redondo !

Cariri Cangaço: Força ao Decano Caipira de Poço Redondo !: Comunicamos a toda família Cariri Cangaço, que nosso Conselheiro do Conselho Consultivo, pesquisador, escritor, radialista, poeta, Alcino A...

domingo, 4 de março de 2012

Livros do Nordeste 9

Lampião e o Estado Maior do Cangaço - Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena - Estudo feito por dois estudiosos do Cariri cearense sobre os maiores nomes do cangaço no Nordeste: Lampião, Luís Pedro, Labareda, Sabino Gomes, Massilon, os irmãos Engrácia, Antônio Matilde, Antônio Ferreira, Livino Ferreira, Jararaca, entre outros.
Edição utilizada : 2ª edição, Fortaleza, Gráfica Encaixe, 2004 (a primeira edição é de 1995).
Trecho significativo:
Declarações do cangaceiro Oliveira aos pesquisadores sobre Lampião:
"Durante o tempo que andei com Lampião, quando a gente entrava no Ceará, ele dizia logo: - Coidado, qui é um istado qui eu arrespeito! E ninguém tomava nada de ninguém, não matava ninguém. Lampião não gostava de dar surras, dizia: Prá pegá um pobi, um paisano dizarmado dá u'a pisa, não é vantage prum homi. Vantage prum homi é falá arto prá ôto homi armado! Não se dava bolos. As moças tinham que ser respeitadas. O padre Cícero tinha pedido para ele respeitar moças, senhoras casadas e seus romeiros, dizendo que se fizesse isso, ele morreria velho em sua cama. Quando entrô no Juazeiro, deram-lhe armas, fardamento e a patente de capitão prá deixar aquela vida, mas o governo e a polícia do Pernambuco não deixaram. Lampião dizia:
Ninguém quêra si apossá de muié de vergon'ia o que mi dizibedecê eu atiro pra matá! E se o o cabra teimasse, morria mesmo".
O tratamento dos feridos era uma coisa desmantelada. Lavava-se era com cachaça, pois não havia álcool e colocava-se emplasto de sal com pimenta. Nunca fui ferido, mas vi muito baleado sofrer com ferimento aberto e tendo que andar sem parar, correndo da polícia. Se o ferimento era grande, deixava-se o baleado com algum coiteiro. Quando não tinha jeito, se abreviava a morte do companheiro, a pedido dele mesmo como foi feito com Sabino". (p. 204-5).

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Padre Cícero e Lampião

Gostaria também de participar do debate sobre o relacionamento entre o padre Cícero e Lampião. Como pesquisador e estudioso do cangaço, gostaria de ressaltar os aspectos seguintes:
a) Não acredito na hipótese de que o padre Cícero tenha sido o responsável direto pelo deslocamento do bando de Lampião à cidade de Juazeiro em 1926. A presença de Lampião na "Meca do Cariri", na verdade, constituiu-se um grande empecilho para o padre, criticado diariamente nos jornais da capital, especialmente "O Nordeste" por ser um suposto protetor de bandidos. Os homens ligados a Floro Bartolomeu e ao Batalhão Patriótico, encarregados de combater a Coluna Prestes, usaram a influência do sacerdote para conseguir convencer Lampião a ir para o Juazeiro. O padre, desnorteado pelos acontecimentos (Floro agonizava no Rio de Janeiro e morreria logo em seguida), foi incapaz de evitar a chegada dos cangaceiros;
b) Alguns escritores enfatizam que o padre protegia a família de Lampião em Juazeiro e que, por isso, mantinha contatos diretos com ele. Na célebre visita do cangaceiro, em março de 1926, Lampião teria sido inclusive recebido pelo padre Cícero. Não há provas irrefutáveis de que isso tenha acontecido. Mas, controvérsias à parte, o que se observou é que, no período depois do ano de 1927, ninguém mais falou de algum contato entre Lampião e o Padre. As supostas cartas que o sacerdote enviava ao chefe cangaceiro não foram mais mencionadas. Lampião, vaidoso como era, não deixaria de mencionar, aos quatro ventos, o recebimento de uma carta dessas ? ou não?
c) sobre o relacionamento entre Lampião e o padre Cícero, acho que era o chefe cangaceiro que fazia tudo para alardear uma suposta tolerância do religioso à existência do seu bando. Lampião aproveitava-se do temperamento do taumaturgo e propagandeava isso como um apoio. Na verdade, o padre acolheu multidões e, homem do seu tempo, teve que conviver com facínoras e homens cruéis. O preço a pagar pela sua liberalidade foi ser visto, pelas gerações posteriores, ora como pusilânime, ora como coiteiro, ora como um coronel de batina.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Novas pesquisas

Estou há meses no Arquivo Público do Ceará procurando documentos oficiais sobre a atuação da Polícia Militar nos anos 1920, quando o cangaceirismo estava no auge. Por enquanto, pouco progresso, apesar do grande esforço. São caixas com muitos registros (telegramas, ofícios, informações) e muitas delas estão estão sem catalogação, o que força o historiador ou pesquisador a averiguar todo o seu material em busca de um dado precioso e que ficou escondido nos calhamaços.
Estou surpreso com a falta de informações mais relevantes sobre o cangaço - e especialmente sonre Lampião - nos documentos oficiais da Polícia cearense, embora se saiba que os jornais da época falassem sobre supostas irregularidades como a facilitação à ação de cangaceiros no Cariri cearense. A falta de maiores informações é daqueles detalhes que levam o pesquisador a levantar hipóteses meio esdrúxulas: não seria mais conveniente para as autoridades da época esconder certas coisas ?
Não estou frustrado a ponto de abandonar as pesquisas. Em breve, neste blog, estarei compartilhando com os amigos os resultados e as descobertas.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Livros do mestre

Acabei de receber o livro "Dadá e Corisco", do mestre Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Em breve, o grande especialista prometeu o envio de "Maria Bonita". Ambos os livros foram impressos em Salvador graças ao patrocínio da Assembleia Legislativa da Bahia.
Do mestre Amaury já tenho "Como morreu Lampião", o primeiro dos seus clássicos, "Lampião, segredos e confidências do cangaço" e "Lampião e as cabeças cortadas". Quem precisa conhecer o cangaço, especificamente do tempo de Lampião e de cangaceiros como Corisco e Maria Bonita, não pode deixar de ler as obras significativas do mestre.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O valor dos nordestinos

Tenho orgulho de ser nordestino e, digo ainda mais, nordestino de cidade do interior, daqueles que ainda colocam cadeiras na calçada para conversar com os amigos. Fico revoltado quando leio algo na internet ou em qualquer outro meio sobre o preconceito contra os nordestinos. Parece que agora virou moda falar mal do Nordeste - ou do Norte - e colocar toda a culpa do que acontece de ruim no país nas costas daqueles que não são descendentes de alemães, italianos, espanhóis, holandeses... Antes, os nossos intelectuais adoravam falar de uma rica fonte ocidental e europeia. Vindo da Europa - especificamente da França - tudo era bonito e moderno. Havia até escritor que inventava um nome francês. Sérgio, por exemplo, virava Serge. Chique, não?
Hoje em dia, somos bombardeados pelo inglês da informática e pelos valores da globalização. Filme bom é filme americano, nos quais o bandido é sempre um guerrilheiro da América Central ou um muçulmano do Taliban. O brasileiro do Sudeste se acha o máximo e nos enxerga como uma parte desprezível do país. É verdade que se trata de uma minoria de medíocres, presunçosos e "bons de peia". Mas, se não nos indignarmos, o movimento vai crescer. O nordestino, porém, é sempre um forte. Sua cultura e sua história precisam ser mais conhecidas pelos próprios habitantes dessa parte do país. O Brasil não é só São Paulo e Rio de Janeiro.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Relatos...e relatos

Sou pesquisador do cangaço há muito tempo e confesso que já li ou escutei muitos absurdos sobre algum aspecto ou outro ligado ao instigante tema. Como era de se esperar, as biografias dos cangaceiros mais famosos provocam as maiores polêmicas. É verdade que alguns estudiosos sérios têm se dedicado à ardua tarefa de "separar o joio do trigo", mas, infelizmente, ainda há espaço para opiniões e teses, no mínimo, estaparfúrdias. Alguns autores não gostam de mencionar fontes ou se apegam aos relatos mais frágeis, sem nenhum embasamento.
A tese do momento, a polêmica da moda, entre os interessados pelo assunto do cangaço, é a que se refere à suposta homossexualidade do cangaceiro Lampião. Não li o livro do juiz sergipano e não sei quais as fontes que ele usou, mas pelo que já li em textos de colegas, como João de Sousa Lima, Alcino Costa e Wescley Dutra, o autor apenas deu importância a relatos desencontrados, muito mais lendas do que qualquer outra coisa. Quem estuda detidamente o cangaço sabe que o que existe em demasia, nesse campo de estudos, é a invencionice, a maledicência, o "fuxico", a fofoca, a divulgação de "estórias" sem pé nem cabeça. Em todos esses anos de estudo, não tinha observado, com exceção do livro de Joaquim Góis, alguma referência, por exemplo, a um caso amoroso envolvendo Maria Bonita e Luís Pedro, aspecto também mencionado na obra "O Mata Sete", a qual trouxe toda essa celeuma. Como acreditar nisso agora ?
Mas há uma infinidade de outros disparates sobre cangaço e, especificamente, sobre Lampião. Querem alguns exemplos ?
1) Lampião teria perambulado no Piauí (Surpreendi-me, um dia, ao acessar uma página de uma comunidade de uma rede social, com a notícia do lançamento de um livro com essa intrigante tese. Falava-se até numa batalha da Macambira, com 400 soldados contra menos de 100 cangaceiros. Ora, isso não aconteceu no Ceará no fim de junho de 1927, quando Lampião voltava de Mossoró ? Será que estão aproveitando fatos ocorridos e mudando apenas os locais ?
2) Lampião conhecera pessoalmente o artista Luiz Gonzaga, o rei do Baião (não há, em estudos sérios, quaisquer referências a isso, até onde eu sei).
3) Lampião procurara o coronel Horácio de Matos, na Bahia, e foi um dos seus protegidos;
E assim por diante... São inúmeros os exemplos e faria um texto muito grande se fosse enumerá-los um a um. Não sou radical a ponto de negar completamente a possibilidade de que tais fatos - ou pelo menos alguns deles - tenham acontecido. Só não consigo digerir, aceitar ou entender com facilidade o fato de que eles possam se sustentar na literatura cangaceira, porque não há provas relevantes para atestá-los, nem eles foram levados em consideração por aqueles que estudaram o assunto com responsabilidade e seriedade.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Livros do Nordeste 8

Em 2006, foi publicado o livro "Cangaceiros", da francesa Élise Jasmin. Trata-se de uma edição de luxo, trazendo as fotos conhecidas dos cangaceiros e dos principais componentes de volantes. A maioria das fotos é do acervo de Benjamim Abraão, da década de 1930. Quase todas as fotografias são comentadas pela autora. Destaque para um escrito introdutório do mestre Frederico Pernambucano de Mello. O livro ressalta-se pela beleza e pelo cuidado na sua edição, embora tenha pequenos defeitos, entre os quais a indicação errônea de alguma fotografia ou de algum detalhe como o nome de um cangaceiro.
Estrutura: Texto de Frederico Pernambucano; A Guerra das Imagens; Fotografias de Cangaceiros e componentes das volantes; Comentários sobre as imagens.
Trecho significativo (edição utilizada: São Paulo, Terceiro Nome, 2006, p. 23-24):
"Enquanto seus predecessores tinham feito de sua existência no cangaço um meio de obter vingança, após 1926 - e, mais especificamente, a partir dos anos 1930 - o grupo de Lampião fez do cangaço um meio de adquirir bens materiais, riquezas, e uma notoriedade que lhe permitia obter respeito de parte da classe abastada da sociedade do sertão e de algumas personalidades da vida pública e política da região. Embora muitos jornalistas fizessem questão de demonstrar desprezo por um grupo de indivíduos que se limitavam a imitar a sociedade do litoral, Lampião e seus cangaceiros exerciam sobre eles certo fascínio, gerado por essa mistura de riqueza, extravagância e barbárie. E, mesmo a contragosto, os jornalistas desempenhariam seu papel, publicando muitas fotografias e falando recorrentemente desses personagens de romance. Não foi por acaso que, em 1936, Lampião aceitou ser fotografado - e, principalmente, filmado - por Benjamim Abrahão. Sempre desconfiado dos jornais que publicavam artigos sobre ele cujo conteúdo não podia controlar, Lampião certamente compreendeu que as fotografias e o filme de Benjamim Abrahão lhe permitiriam impor uma imagem sobre a qual nenhuma intervenção, nenhuma distorção seria possível. E se, por um lado, diversos autores e jornalistas divertiam-se evocando a inabilidade de sua linguagem, que evidenciava suas origens camponesas, sua representação fotográfica e cinematográfica, muda e incontestável, deveria mostrar claramente seu sucesso e o de seu grupo. Benjamim Abrahão desempenhou seu papel e pagou caro: morreu em Águas Belas, Pernambuco, no dia 9 de maio de 1938, com 42 golpes de faca".

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Livros do Nordeste 7

O padre José Antônio de Maria Ibiapina foi um dos grandes apóstolos do Nordeste, dedicando-se à população pobre dos estados de Pernambuco, Paraíba e Ceará. Suas missões começaram em 1853 e, nas décadas de 1860 e 1870, construiu inúmeras casas de caridade no sertão nordestino. A "Crônica das Casas de Caridade fundadas pelo padre Ibiapina" é um relato significativo sobre as atividades notáveis do padre, ex-juiz e ex-advogado, filho de um revolucionário de 1824. As "crônicas" foram publicadas e comentadas pelo religioso Eduardo Hoornaert, autor da "História da Igreja no Brasil".
Estrutura: Introdução sobre a ação missionário do padre Ibiapina; Crônica das Casas de Caridade; Comentário do mapa das viagens ibiapinianas.
Trecho significativo (edição utilizada: Fortaleza, Museu do Ceara, SECULT, 2006, p. 188 - Sobre a grande seca de 1877- conservando a grafia original: "Apparecêo neste anno huma grande secca e trouxe comsigo a fome e achou quaze todos nús, e meo Pai determinou que do que havia na Caridade se repartisse com os pobres peregrinos, e assim se fazia; dava-se a todos os necessitados o alimento e vestiário, não só para aquelles que vinhão em pessôa pedirem no portão, mas para levarem para aquelles que dizião ficavão escondidos no matto por não poderem apparecêr por estarem nús.
No meio desse escuro tempo pela tempestade de mizeria estava tranquilo discançando das fadigas de tão penoza posição à sombra da confiança em Deos, e esta confiança nos corrobora o espírito, que não nos assusta o futuro por mais escuro e horrorozo que nos pareça".

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Livros do Nordeste 6

Também em 1982 surgia "Lampião, o cangaceiro e o outro", de Cláudio Bojunga e Fernando Portela. Trata-se de uma coletânea com interessantes artigos jornalísticos sobre a vida de Lampião e sobre o cangaço. São entrevistas, impressões, relatos de pessoas que conviveram com o célebre cangaceiro. Um livro que não cansa, que sempre traz detalhes preciosos para a história do cangaço.

Estrutura: A morte de Lampião; A terra de Lampião; Relato sobre Mossoró e Jararaca; Lampião em Capela-1929; Lampião em Capela-1930; Mané Neto; Lampião e Padre Cícero; Coiteiros; Dadá e Corisco; Outros cangaceiros.

Trecho significativo (edição utilizada: Traço Editora, São Paulo, 1982, p. 53): Sobre Mané Neto, um dos maiores adversários de Lampião: "Magro, alto, elegante, to do vestido de azul-celeste, lá está o coronel Mané Neto. Se não fosse aquele Taurus 38, cano médio, na cintura, ele poderia ser definido como um velhinho simpático e indefeso. Indefeso, jamais: quando me aproximei dele, um tanto bruscamente, brecando o carro a poucos metros, a mão (fina, delicada) do coronel ameaçou puxar o Taurus da cartucheira. Mas um grito - 'É jornal, coronel! É do jornal!' - guardou os reflexos do coronel para outra ocasião. Mas ele ainda desconfiou:

- Abra a porta do carro, meu filho. Vamos, desça, venha cá. Devagar.

A voz é pausada, suavíssima, é quase uma sonata. Vamos manter o simpático na definição do coronel. Ou melhor: vamos chamá-lo de encantador. Mesmo quando ele, escudando-se em desculpas gentilmente, diz que não vai falar de homens sagrados, cabeças cortadas, atrocidades de um modo geral. Não, ele não vai falar de jeito nenhum sobre a fama dele: o mais feroz e destemido caçador de cangaceiros de que já se ouviu falar. A opinião - de ex-cangaceiros e policiais da época - é unânime. O próprio Lampião dizia dele: 'Se os macacos vier sem Mané Neto é como se não fosse nada'. Ou: 'Se Mané Neto chegou, precurem sarvar metade da vida que a outra já foi'. Os cangaceiros sobreviventes chegam a fazer caretas quando se toca no nome dessa gentil criatura. Segundo eles, Mané Neto jamais poupou a população civil que, supostamente, não lhe queria dar a direção de Lampião. Os colegas de Mané Neto elogiam a sua bravura, sem cair em detalhes".

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Livros do Nordeste 5

Em 1982, a Traço Editora lançava "Assim Morreu Lampião", de Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Dr.Amaury, como o chamamos, é um dos maiores especialistas da história do cangaço. Teve contato com um grande número de cangaceiros e fez inúmeras visitas ao sertão em busca de informações sobre a epopéia cangaceira. "Assim Morreu Lampião" proporciona uma leitura muito interessante sobre os últimos dias do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva na grota do Angico, divisa de Sergipe e Alagoas, em julho de 1938. O autor narra, expõe depoimentos de pessoas que testemunharam os acontecimentos e publica fotos clássicas do cangaço.
Estrutura: A grota de Angico; Depoimentos de familiares, depoimentos de cangaceiros; depoimentos de volantes; o coiteiro; O combate; Reconhecimento dos corpos; Análise dos fatos; A morte de Lampião segundo noticiário dos jornais da época; Como morreu Pedro de Cândido.
Trecho significativo (edição utilizada: Traço Editora, São Paulo, 1982, p. 51-52):
"As conclusões a que chega o pesquisador, a luz dos fatos expostos, são as seguintes:
1) Esclareçamos em primeiro lugar que Angico, que em certos jornais e revistas aparece como sendo uma espécie de fortaleza de Lampião, não era nada disso. Nem mesmo chegava a ser um coito velho (por coito velho, no vocabulário dos cabras, entenda-se lugar de permanência prolongada; como exemplo podemos dar o coito do Cangalêcho, onde morreu Mariano, Pae Véio foi degolado ainda vivo e Pavão também teve ali seu fim, estavam ali a mais de 3 meses) autores afirmam que Lampião quase fizera da Angico, uma fazenda, uma moradia!!!
Como se um cangaceiro pudesse, a seu bél prazer, ficar estacionado, parado, quieto, descançado, muito tempo em algum lugar.
Tinha que andar se deslocando constantemente para confundir as volantes e escapar a sua perseguição.
Lampião, com sua grei, chegara de Alagoas no dia 26, essa é que é a verdade, ou um pouco antes, no dia 21 de julho.
Segundo Zé Sereno, Cila, Criança e Dadá foi a essa terceira visita feita a fatídica grota. As outras duas foram simples paradas, coisa de horas, na realidade foram mais pequenos descansos, pausas ou intervalos em viagens longas e cansativas.
Ouvisse Lampião seus lugares tenentes e não morreria ali.
Corisco não gostara da localização do coito nem de suas possibilidades de defesa ou fuga.
Zé Sereno não gostara dali por outra razão, duvidava da fidelidade do coiteiro Pedro, de Cândido.
Mas Pedro não traia Lampião. O vaqueiro alagoano, Jóca, da fazenda Capim foi (segundo o soldado Santo, da volante de João Bezerra) o delator que causou, com a prisão e tortura de Pedro, a morte de Lampião".

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pesquisas

Recentemente, eu perambulei pela Chapada do Apodi para tirar fotos dos locais visitados pelos cangaceiros de Lampião quando fugiram de Mossoró em junho de 1927. Sempre que puder, vou disponizar neste blog estas fotografias. A primeira delas mostra ruínas da antiga casa de Anísio Batista, na localidade de Lagoa do Rocha, municipio de Limoeiro do Norte. Lampião e seus cabras, quando entraram no Ceará, em 14 de junho, passaram inicialmente por este local.
   

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Livros do Nordeste - 4

Em 1970, surgia, em inglês, a obra "Miracle at Joaseiro", do americano Ralph Della Cava. A primeira edição brasileira, com a tradução de Maria Yedda Linhares, é de 1976. "Milagre em Joaseiro" é um livro clássico sobre o fenômeno do messianismo em Juazeiro do Norte e foi  produto de pesquisas realizadas no Cariri dos anos 1960. É uma obra que mescla biografia e estudo social, político e econômico do Vale caririense. Pela agudeza e profundidade de suas colocações, inclusive quanto ao papel do padre Cícero, tornou-se um livro obrigatório para os que se interessam pela história do Nordeste brasileiro e pela figura carismática do Patriarca de Juazeiro.
Estrutura: As origens sociais do milagre; O conflito eclesiástico; Da religião à política; Padre Cícero ingressa na política; Joaseiro pede autonomia; Cariri quer o poder estadual; Joaseiro no plano nacional; O patriarca e a Igreja; Os últimos dias.
Trecho significativo (edição utilizada: 2ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985):
"Na medida em que a economia moderna estendia seus sistemas de produção, salário, crédito e bancos em áreas até então adormecidas, coube ao Patriarca procurar impedir que algumas das consequências 'negativas' deste processo destruísse a ordem social. No Nordeste, uma nova onda de banditismo profissional era apenas um dos sintomas da adaptação fortuita da região à economia capitalista moderna. Diferentemente do banditismo político e remunerado, que fora criado e protegido pelos coronéis antes de 1914, o banditismo profissional dos anos 20 se caracterizou pelo surgimento de pequenos bandos de homens desgarrados, cuja liderança era entregue a um dos seus próprios membros. O arquétipo do cangaceiro moderno foi o Robin Hood brasileiro Antônio Virgulino Ferreira, o célebre Lampeão. Respeitando, por vezes, as classes mais pobres, sua carreira de revolta e de destruição em grande escala da propriedade provocou o terror em todas as classes - chefes do sertão e autoridades governamentais. Antes de Lampeão e de outros do mesmo gênero (cuja importância na história social moderna do Brasil ultrapassa os limites do presente livro), o Patriarca pregava contra o emprego da violência e recomendava o arrependimento. Quando Lampeão e seu bando entraram em Joaseiro, em 1926, presumivelmente a convite do dr. Floro para auxiliar a combater a coluna Prestes, a imprensa das cidades do Nordeste aproveitou-se da ocasião para castigar o padre Cícero com a acusação de 'protetor de bandidos'. O padre, porém, replicou que o seu único interesse estava em convencer Lampeão e seu bando a abandonarem o caminho errado e retirarem-se para o interior do mato Grosso, onde poderiam ser agricultores e recomeçar uma vida honesta.
Os conselhos pacifistas do Patriarca só eram levados em consideração em tais casos extremos de desordem social. Por esse motivo, o clérigo instou, pessoalmente, pela criação, no final da década dos 20, de um batalhão do exército em Joaseiro. Objetivava com isso manter a paz e alistar no serviço militar os elementos mais recalcitrantes da sociedade sertaneja. Floro, que em 1914 e ainda alguns anos mais tarde pediu em pessoa a prisão de vários bandidos profissionais que se tinham infiltrado em Joaseiro, foi quem melhor sintetizou a ação eficaz do padre Cícero em prol da sociedade conservadora em transição. Na defesa que fez do Patriarca perante a Câmara Federal, em 1923, foi o discurso de Floro interrompido, várias vezes, pelos deputados, que reforçavam a impressão que Floro procurava transmitir: 'O padre Cícero é um elemento de ordem naquele sertão... Sem ele, o governo não poderia manter a ordem ali; esta é a verdade'."   

domingo, 30 de outubro de 2011

Alcino Alves Costa

Todos nós, pesquisadores e entusiastas da temática Cangaço e Nordeste, estamos torcendo pela recuperação total do nosso confrade Alcino Alves Costa, relevante autor sergipano, autor de "Lampião em Sergipe" e "Lampião Além da Versão". O "Caipira de Poço Redondo", com certeza, estará brevemente de volta às pesquisas e aos debates.

domingo, 23 de outubro de 2011

Cariri Cangaço 2011

A conferência em Aurora falou do mistério sobre a participação de Isaías Arruda e Major Moysés Figueiredo em trama contra Lampião. Havia também suspeita de que Lampião tinha sido beneficiado pela "omissão" dos dois. Mais um grande enigma do cangaço.

Preservação da Memória

Ontem, na acolhedora cidade de Russas, interior do Ceará, participei de um interessante debate sobre transformações sociais e preservação da memória. O evento contou ainda com a participação dos professores Rameres Regis, da UECE, e de Rômulo Jerri Andrade, da rede pública russana.
O encontro foi promovido pela Casa de Amigos de Russas (CARUS) e fez parte do XIII Encontro Cultural de Russas.
As intervenções dos professores foram muito relevantes. Rameres ressaltou o aspecto político na salvaguarda dos monumentos históricos. Enfatizou ainda que a política de preservação toma caminhos esdrúxulos quando escolhe conservar um monumento e, ao mesmo tempo, permite destruir locais significativos para uma comunidade inteira, como vem ocorrendo em áreas que são inundadas por barragens. Rômulo Jerri enfatizou o desinteresse dos jovens em relação ao assunto e observou que uma política de preservação e de estímulo à cultura precisa passar pela educação popular.
Eu comecei minha fala citando o francês Jacques Le Goff que enfatizara em suas obras o nicho de poder que envolve o caráter de preservação da memória. Um poder relevante, que escolhe o que lembrar e o que esquecer. Nossa história nordestina é cheia de lacunas, esquecimentos, falácias. Também dei relevância ao aspecto do pertencimento. Como exigir que as pessoas preservem o patrimônio e a memória se eles não são significativos para elas ? É preciso estabelecer mecanismos para garantir a ligação dos cidadãos aos seus lugares e aspectos de memória.
No final do encontro, Hider Albuquerque, um dos organizadores, comunicou que a CARUS planeja levar ao Forum Municipal de Cultura de Russas um projeto de conservação da memória do município.    

sábado, 22 de outubro de 2011

Livros do Nordeste 3

Escrito aproximadamente em 1930, o livro do grande folclorista cearense Leonardo Mota, "No Tempo de Lampião", ressalta os costumes e o linguajar do povo sertanejo. O título do livro, para mim, não é muito adequado. Especificamente sobre o cangaço e Virgulino Ferreira da Silva, as informações são muito restritas.
Estrutura: Escritos sobre cangaceiros (Quem escreveu a patente de Lampião, A morte do Jararaca, A prisão de Antônio Silvino, Um precursor de Lampião, Lampião e seus perseguidores), Anedotário, Adagiário e Notas sobre a Poesia e Linguagem Populares.
Trecho significativo (edição utilizada: 3ª edição, Fortaleza, ABC Editora, 2002, Prefácio de Fran Martins):
"Enrolei o meu cigarro de palha e pedi ao fazendeiro em cuja casa me hospedara me dissesse o que pensava das polícias que dão combate aos cangaceiros, Ele entupiu as ventas com uma pitada de 'torrado' rescendente a cumaru, limpou o bigodão com a manga da camisa, aprumou-se na tripeça e não tardou em me dizer:
- Quero mais ante me ver neste oco de mundo, às mvolta com bandido que com soldado de poliça. Me creia que os mata-cachorro, quando sai da capital, vem com o pensamento fixe em que todo matuto protege cangaceiro. Querem, por fina força, que a gente descubra o roteiro dos criminoso. Se o freguês diz que iguinora, apanha pra descobrir; se descobre, também apanha, porque é sinal que conhecendo, protege quem eles caçam. Não tem pronde correr: ninguém escapa...
- E os bandoleiros?
-Abém, esses estão no seu papel. Assim mesmo, tem vez que a questão é saber tirar eles com jeito. A não ser um ou outro cabra desalmado, eles só fazem mal a nós quando andam aperreados pela poliça, quando desconfiam que se deu notiça deles à tropa do governo, ou quando, precisando de dinheiro, sabem que o sabagante tem em casa, mas não dá porque não quer.
- Admiro-me de Sr. falar assim: tenho sabido e apurado tanta crueldade de Lampião...
- Sim, me entenda: eu falo do tempo de Antônio Silvino, Luís Padre, Sebastião Pereira e outros, pois esse tal de Virgolino, com a graça de Maria Santíssima, nunca me apareceu aqui, não. Vejo dizer que esse Lampião é um satanás de perverso..." (p. 41).      

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Comentário de Archimedes Marques sobre o livro de Alcino Alves Costa

Transcrevo abaixo o comentário de Archimedes Marques sobre o livro de Alcino Alves Costa, "Lampião em Sergipe":
"A Editora Diário Oficial do Estado de Sergipe, através da SEGRASE, lançou oficialmente em Aracaju, no dia de ontem, 19 de outubro de 2011, às 18 horas, na Sociedade Semear, o livro "Lampião em Sergipe", excelente obra do escritor, pesquisador e historiador do cangaço, o decano memorialista de Poço Redondo, Alcino Alves da Costa. Vale ressaltar que este livro contabiliza a oitava publicação que leva o selo de qualidade da Editora Diário Oficial.


Apesar da forte chuva que desabava na capital sergipana o público se fez presente ao evento cultural em excelente número, lotando as dependências da Sociedade Semear, em comprovação do quanto é querido e importante para o cenário cultural sergipano a figura carismática do nosso amigo Alcino Alves Costa, tão amado também por personalidades do mundo jurídico, cultural, artístico, jornalístico, pessoas do povo em geral que ali testemunharam o lançamento de mais essa obra desse magnífico homem da cultura sergipana, em especial da cultura do cangaço.

Absoluta certeza tenho que aqueles que fazem o Cariri Cangaço comandado pelo amigo Manoel Severo, Cariri Cangaço esse que é um dos amores do velho-jovem Alcino que se torna menino nas paragens do Crato e adjacências, também estiveram presentes em pensamento ao evento, como de igual modo, plena certeza tenho que todos que fazem a família Cariri Cangaço gostariam de ter tomado um avião e abraçado o Alcino, pois o Alcino é uma dessas pessoas que possuem almas perfumadas e iluminadas, que atrai amigos, que atrai os bons fluidos, que atrai o bem e o bom, que irradia a luz e o amor.

Falar das 292 páginas da grandiosa obra "Lampião em Sergipe" é imergir nos fatos ocorridos na época do cangaço, é sentir a forte influência do coronelismo e do misticismo nos tórridos sertões, é presenciar o sofrimento e agonia do povo com a seca abrasante e com o descaso do governo da época, é ver o bravo sertanejo sofrer avassaladoramente as consequências do cangaço, as atrozes maldades comandadas por Virgulino Lampião, é imaginar tudo isso, bem discorrido em palavras simples do autor, com vasto embasamento calcado nos muitos anos da sua dedicação a leituras, pesquisas e entrevistas com remanescentes da época, além dos longos anos de andanças pelas veredas por onde percorreu o bando cangaceiro, fazendo o seu rastro no Estado de Sergipe, pesquisa essa, pautada com responsabilidade e fidelidade para com a história numa narrativa sobre esse universo, sem subterfúgios, invencionices, uma obra de destaque que o transportará para o mundo dos imortais, a exemplo das outras antecedentes.

Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela Universidade Federal de Sergipe). archimedes-marques@bol.com.br





quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Livros do Nordeste 2

Um dos melhores livros sobre o cangaço é "Guerreiros do Sol", de Frederico Pernambucano de Mello. Sua versão do cangaço - com suas três formas (cangaço meio de vida, cangaço produto de sentimento de vingança, cangaço como refúgio) - é bastante elucidativa. É um livro bem escrito, gostoso de ler, embora isso não tenha prejudicado o estilo e a erudição. Traz informações preciosas sobre o banditismo, notadamente o de Pernambuco. Traz um verdadeiro glossário com o nome dos principais cangaceiros e suas áreas de atuação.
Estrutura: O homem do ciclo do gado e o isolamento sertanejo; Da violência à criminalidade; Cangaço: do endêmico toletado ao epidêmico repelido; De cangaços e cangaceiros: o escudo ético; Secas, agitações sociais e o cangaço como meio de vida; Fronteira e repressão policial; As muitas mortes de um rei vesgo (sobre Lampião).
Trecho significativo (edição utilizada: 4ª edição, A Girafa Editora, São Paulo, 2005. Prefácio de Gilberto Freyre): "No caso de Lampião, por exemplo, as fotografias fornecem excelente confirmação do  modo como ele se insere no sistema de classificação que defendemos. É que tendo enquadrado o capitão como representante do cangaço profissional, por ter sido esta a modalidade criminal que predominou fartamente em sua vida, aceitamos que nos anos iniciais de sua longa carreira ele tenha-se dedicado ao cangaço de vingança, envolvendo-se em ferrenhas disputas contra os Nogueira e José Saturnino, em Pernambuco, e contra José Lucena, em Alagoas, para muito cedo se acomodar, reorientando sua vida na direção do profissionalismo aventureiro, em processo de transtipicidade já comentado. Se examinarmos uma fotografia de Lampião vingador da fase autenticamente guerreira, o veremos absolutamente sóbrio. Ao contrário, o Lampião da década dos 30, da fase profissional em que o cangaço era apenas um meio de vida e os combates, coisas a evitar, enfeitava-se dos pés à cabeça. Nesta, curiosamente as estrelas não apenas apareceram como aumentaram no tamanho no ritmo de sua crescente acomodação. Surgidas no início da década, as estrelas estavam maiores em 1936 e enormes em 1938, ano em que veio a morrer e quando já quase não combatia. [...]"(p. 142).

Cariri Cangaço 2011

Infelizmente não pude participar de toda a programação do III Cariri Cangaço, mas fiquei muito satisfeito em assistir às conferências de Aurora e Barbalha. Como ocorreu nos dois anos anteriores, o evento foi marcante. Boa organização, oportunidade de encontrar os pesquisadores do cangaço, clima de harmonia e de festa, dinamismo, tudo contribuiu para consolidar o Cariri Cangaço como um evento indispensável para todos nós.
Novamente Severo e Danielle estão de parabéns. Aos amigos pesquisadores o meu reconhecimento. Eventos que podem contar com a presença de Antonio Amaury, Juliana Ischiara, Aderbal Nogueira, Ângelo Osmiro, João de Souza Lima, Professor Pereira, Ivanildo Silveira, Antônio Vilela (entre muitos outros) só podem ter muito sucesso. Gostaria de dar um abraço fraternal em todos os que fazem essa grande comunidade a qual, ano a ano, enriquece o nosso Cariri cearense. No meio deles, sou apenas um aprendiz.



Estive no Cariri Cangaço 2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Livros do Nordeste-1

Antes de tudo, gostaria de pedir desculpas aos eventuais leitores (será que existe algum ?) pelas demoras na postagens. Passo uma semana nos plantões da Secretaria da Fazenda e lá, naturalmente, não posso escrever no blog. Nas folgas, volto com a mente cheia de ideias.
Gostaria de discutir, com os leitores, acerca dos grandes livros e escritos sobre o cangaço e a história nordestina em geral. Começo pela obra "Cangaceiros e Fanáticos", de Rui Facó.
É um estudo clássico sobre banditismo e religiosidade no Nordeste brasileiro. Com viés marxista, o livro de Rui Facó enfatiza que os grandes desequilíbrios que abalaram a região provieram especificamente da presença do latifúndio e da pobreza material de milhares de pessoas.
A obra foi lançada postumamente em 1963. Anteriormente, o autor tinha publicado apenas alguns textos sobre Canudos.
Estrutura: O Despertar dos Pobres do Campo (Na terceira parte, texto sobre cangaceiros; na quarta parte, texto sobre os fanáticos); Canudos e o Conselheiro; Juazeiro e o Padre Cícero (parte sexta versa sobre o apogeu no cangaceiro e do jagunço no Cariri cearense).
Trecho significativo (edição consultada: 6ª edição, Editora Civilização Brasileira, Edições UFC, 1980, Coleção Retratos do Brasil, volume 15): "[...] E eram eles - cangaceiros e "fanáticos" - os elementos ativos de uma transformação que prepara mudanças de caráter social. Eles subvertem a pasmaceira imposta pelo latifúndio durante séculos, provovam choques de classes, lutas armadas, preparam os combates do futuro. Não são ainda a revolução social, mas são o seu prólogo. São os elementos regeneradores daquela sociedade estagnada, em processo de putrefação. Revivem-na, dão-lhe sangue novo, põem-na em movimento, preparam-na para o advento de uma nova época. São ainda o elemento unificador por excelência de uma região - mais do que o Nordeste, todo um imenso território interiorano - que se desagregava dentro de si mesma, em feudos quase fechados e paralisados" (p. 37)    

domingo, 9 de outubro de 2011

Sânzio de Azevedo

Hoje quero homenagear o grande intelectual cearense Sânzio de Azevedo. Professor da UFC, é um dos maiores especialistas em Literatura Cearense. Tive o prazer de conhecê-lo no lançamento do livro "Arautos do Catolicismo", do amigo Edwilson Freire Chaves. O professor Sânzio, mesmo sendo um dos maiores nomes de nosso meio cultural, é uma pessoa simples e atenciosa. A bibliografia cearense se enriqueceu deveras com o lançamento do seu novo livro sobre o movimento artístico da Padaria Espiritual. Sânzio confessou ter se emocionado com o descobrimento de novas fontes sobre o expressivo movimento literário que se desenvolveu no Ceará dos últimos anos do século XIX (as atas das reuniões ou "fornadas" como se dizia) e não descansou enquanto não escreveu o livro com todas as revelações esperadas pelos pesquisadores da Literatura. O aparecimento do livro, na verdade, é um verdadeiro marco para a nossa vida cultural. Não pude ir ao lançamento, na Livraria Cultura, mas aguardo ansioso o fantástico livro!

sábado, 8 de outubro de 2011

Cariri Cangaço 2011

No último Cariri Cangaço, encontrei os amigos pesquisadores, entre eles Vilela (Garanhuns-PE), Manoel Severo  (Crato-CE) e Alcino Costa (Poço Redondo-SE). Confiram:
Lembrando aos interessados:
As seguintes obras estão disponíveis para venda:
A Misteriosa Vida de Lampião, 30 reais;
Estudos de História Jaguaribana, 30 reais; (já incluídas despesas com correio).
Os contatos devem ser para o e-mail: cicinato.neto@sefaz.ce.gov.br.