Saiu na Imprensa

Vejam o que os jornais falaram sobre a publicação das obras de Cicinato Ferreira Neto. acesso em http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=603399

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=408050



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O valor dos nordestinos

Tenho orgulho de ser nordestino e, digo ainda mais, nordestino de cidade do interior, daqueles que ainda colocam cadeiras na calçada para conversar com os amigos. Fico revoltado quando leio algo na internet ou em qualquer outro meio sobre o preconceito contra os nordestinos. Parece que agora virou moda falar mal do Nordeste - ou do Norte - e colocar toda a culpa do que acontece de ruim no país nas costas daqueles que não são descendentes de alemães, italianos, espanhóis, holandeses... Antes, os nossos intelectuais adoravam falar de uma rica fonte ocidental e europeia. Vindo da Europa - especificamente da França - tudo era bonito e moderno. Havia até escritor que inventava um nome francês. Sérgio, por exemplo, virava Serge. Chique, não?
Hoje em dia, somos bombardeados pelo inglês da informática e pelos valores da globalização. Filme bom é filme americano, nos quais o bandido é sempre um guerrilheiro da América Central ou um muçulmano do Taliban. O brasileiro do Sudeste se acha o máximo e nos enxerga como uma parte desprezível do país. É verdade que se trata de uma minoria de medíocres, presunçosos e "bons de peia". Mas, se não nos indignarmos, o movimento vai crescer. O nordestino, porém, é sempre um forte. Sua cultura e sua história precisam ser mais conhecidas pelos próprios habitantes dessa parte do país. O Brasil não é só São Paulo e Rio de Janeiro.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Relatos...e relatos

Sou pesquisador do cangaço há muito tempo e confesso que já li ou escutei muitos absurdos sobre algum aspecto ou outro ligado ao instigante tema. Como era de se esperar, as biografias dos cangaceiros mais famosos provocam as maiores polêmicas. É verdade que alguns estudiosos sérios têm se dedicado à ardua tarefa de "separar o joio do trigo", mas, infelizmente, ainda há espaço para opiniões e teses, no mínimo, estaparfúrdias. Alguns autores não gostam de mencionar fontes ou se apegam aos relatos mais frágeis, sem nenhum embasamento.
A tese do momento, a polêmica da moda, entre os interessados pelo assunto do cangaço, é a que se refere à suposta homossexualidade do cangaceiro Lampião. Não li o livro do juiz sergipano e não sei quais as fontes que ele usou, mas pelo que já li em textos de colegas, como João de Sousa Lima, Alcino Costa e Wescley Dutra, o autor apenas deu importância a relatos desencontrados, muito mais lendas do que qualquer outra coisa. Quem estuda detidamente o cangaço sabe que o que existe em demasia, nesse campo de estudos, é a invencionice, a maledicência, o "fuxico", a fofoca, a divulgação de "estórias" sem pé nem cabeça. Em todos esses anos de estudo, não tinha observado, com exceção do livro de Joaquim Góis, alguma referência, por exemplo, a um caso amoroso envolvendo Maria Bonita e Luís Pedro, aspecto também mencionado na obra "O Mata Sete", a qual trouxe toda essa celeuma. Como acreditar nisso agora ?
Mas há uma infinidade de outros disparates sobre cangaço e, especificamente, sobre Lampião. Querem alguns exemplos ?
1) Lampião teria perambulado no Piauí (Surpreendi-me, um dia, ao acessar uma página de uma comunidade de uma rede social, com a notícia do lançamento de um livro com essa intrigante tese. Falava-se até numa batalha da Macambira, com 400 soldados contra menos de 100 cangaceiros. Ora, isso não aconteceu no Ceará no fim de junho de 1927, quando Lampião voltava de Mossoró ? Será que estão aproveitando fatos ocorridos e mudando apenas os locais ?
2) Lampião conhecera pessoalmente o artista Luiz Gonzaga, o rei do Baião (não há, em estudos sérios, quaisquer referências a isso, até onde eu sei).
3) Lampião procurara o coronel Horácio de Matos, na Bahia, e foi um dos seus protegidos;
E assim por diante... São inúmeros os exemplos e faria um texto muito grande se fosse enumerá-los um a um. Não sou radical a ponto de negar completamente a possibilidade de que tais fatos - ou pelo menos alguns deles - tenham acontecido. Só não consigo digerir, aceitar ou entender com facilidade o fato de que eles possam se sustentar na literatura cangaceira, porque não há provas relevantes para atestá-los, nem eles foram levados em consideração por aqueles que estudaram o assunto com responsabilidade e seriedade.