Saiu na Imprensa

Vejam o que os jornais falaram sobre a publicação das obras de Cicinato Ferreira Neto. acesso em http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=603399

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=408050



sábado, 8 de outubro de 2011

reportagem


ALEX PIMENTEL

O sofrimento vivido pelos cearenses de 1877 a 1879 é relembrado, em livro, pelo historiador Cicinato Ferreira Neto



Limoeiro do Norte. Uma tragédia orquestrada pela natureza no sertão quente, seco, de chão batido e rachado; milhares de mortos numa das maiores secas que assolaram o Ceará; corrupção política de uns, desviando dinheiro destinado a alimentos; muita fome e indigência da grande maioria, clamando o socorro muitas vezes em vão. Milhares de mortes. Uma tragédia nos anos de 1877 a 1879 que assolou o Ceará e pouco comoveu o próspero sul do Brasil. O evento é documentado no livro “A Tragédia dos Mil Dias”, do historiador Cicinato Ferreira Neto, de Tabuleiro do Norte, no Vale do Jaguaribe.



“Vamos levar ao conhecimento de V.Excia. o estado miserável a que se acha reduzido o pobre povo desta localidade quase todo a morrer de fome por falta do pão da caridade, além desta maior parte acometida de inchações, e o grande número destes sendo vítimas por falta de viveres que se dê o menor alimento. Faz horror tanta calamidade em uma quadra semelhante. É lamentável tantos desvalidos que saem pelas portas pedindo algum socorro a ver se salva a vida e não encontra o menor recurso, e dali a poucos minutos vão ser sepultados”. O excerto do livro é um trecho de carta enviada da antiga vila Tabuleiro de Areia (atual Tabuleiro do Norte), distrito de Limoeiro,ao presidente da província cearense.



Os anos de 1877-78 tiveram índice de chuvas de lamuriosos 473mm e 580mm, respectivamente, numa terra semi-árida que aguarda um inverno “sustentável” com pelo menos 1.500mm. Valendo-se centenas de documentos do Arquivo Público do Ceará, Biblioteca e Instituto do Ceará, de material recolhido em cartórios e dioceses no Interior, Cicinato Ferreira evidencia a crise de abastecimento, desespero e súplica do cearense. O quadro de miséria que assolava a população era tão comovente que, para eventual descrédito do leitor com informações que pareçam exageradas, o historiador publica as cartas da época, com padres pedindo providências.



Os jornais da época, como O Cearense e Pedro II, digladiavam a opinião pública do povo que sabia ler. Em início de 1877, as súplicas correspondidas do Interior eram consideradas sensacionalistas pelos donos do poder, que não acreditavam que houvesse um estado tão catastrófico em uma região que deveria ser “deserta” – o próprio romancista e jornalista José de Alencar afirmou que “há incontestavelmente muita exacerbação”, referindo-se aos relatos da miséria cearense. Só com a insistência de cartas foi dado crédito necessário às lamúrias pelos governantes.



Criadas comissões de combate à seca no Interior do Ceará, essas não davam conta das necessidades dos flagelados. Para piorar, muitas eram corruptas, desviavam dinheiro, abasteciam a si próprias com o alimento que seria para o povo, alimentando aquilo que mais tarde se convencionaria “indústria da seca”. Políticos se aproveitavam da miséria, posavam de salvadores da pátria, abasteciam as urnas eleitorais com o estômago vazio da população.



Convergência



Ponto de convergência de levas de imigrantes, Aracati chegou a registrar mais de 400 óbitos de fome num só mês. Este número refere-se aos enterros no cemitério da cidade. Outras centenas eram enterradas em valas comuns, como indigentes.



Cicinato, que em 2003 publicou “Estudos de História Jaguaribana”, reúne pesquisas de outros estudiosos que, para serem encontradas, poderia desestimular o leitor comum. Como quando cita o cearense Rodolfo Teófilo, o “cronista da seca”. Este relata a saga de duas cearenses da antiga vila de Limoeiro, atual Limoeiro do Norte. Depois de perderem gado, terras e o pai, as irmãs Ignácia e Francisca de Sales andaram dezenas de léguas emigrando da seca, levando a mãe paralítica numa rede estendida nas mãos. “Assistimos a sua chegada àquela povoação. Era um quadro que comovia”. Imagine-se quão comovente foi a emigração delas.



A seca no Ceará não é novidade para o cearense. Mas a última seca cearense no Brasil imperial não teve a mesma repercussão que a seca de 1915, documentada por Rachel de Queiroz. Existem pouquíssimas publicações sobre o Ceará de 1877-1879, uma história trágica que o Brasil desconhece.



Melquíades Júnior

Colaborador



Pesquisa

Cicinato Ferreira Neto



Ele, 37 anos, é servidor na Secretaria da Fazenda do Ceará. Graduado em história, é pesquisador do Arquivo Público, Biblioteca Pública Menezes Pimentel e Instituto do Ceará. Preço médio do livro R$ 20.

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